São 7:04 da manhã em Bahía Blanca. Cami dorme enquanto eu a olho lembrando de centenas de momentos passados juntos. É incrível que há quase 1 ano estava iniciando uma nova forma de vida sozinho, enquanto Cami também iniciava sua jornada por América do Sul e agora estamos (um plura bem forte) a ponto de voltar as estradas juntos. Sinto como se nos conhecessemos de toda a vida, porém se passaram apenas 10 meses que ela subiu a Iubirí com sua mochilona e seu carrinho. Nesse momento estou muito ansioso, nervoso, cansado, impaciente e feliz. Entendo que há um ano eu era uma pessoa e agora sou outra. Vivímos muitas coisas nessa primeira etapa da viagem. Muitas pessoas passaram por nossas vidas deixando ensinamentos de todo o tipo, oferecendo uma palavra amiga ou um abraço necessário. As vezes com um tapinha oportuno tudo fica claro.
Quando tivemos que vir a Bahía Blanca por causa da placa, me senti muito mal. Pensava que estava fracassando, que algumas pessoas iam me olhar julgando. Nao voltei, e sim estou passando por Bahía Blanca. De todas as formas não faltaram brincadeiras desagradáveis ou opiniões sobre ter errado de ir ao Sul em março. Não me importa, tudo passa por algo e se não ia ao sul, como conhecería Cami?
“Bom, vamos a Bahía. Ambos temos vontade de que conheça minha família, apresentar a meus amigos, mostrar os lugares onde eu gostava de estar. Porém já que vamos para lá, podemos revisar o GNC para ver se aconteceu alguma coisa quando capotamos.” Essa conversa ocorreu enquanto estávamos sentados um pouco incomodos na parte detras da kombi, comendo uma maçã entre os dois. “Lá em Bahía Blanca temos a possibilidade de melhorar o interior da kombi. Ivo (meu cunhado) pode nos emprestas as ferramentas e talvez nos dar uma mão (essa mão não foi grande, e sim gigante). Também está Juli, meu mecânico, que pode revisar o motor e fazer os consertos necessários. E além disso, temos casa para passar um tempo. Que poderíamos fazer na kombi? (Essa pergunta mudou tudo). Humm...poderíamos fazer uma cama mais larga, já que com essa dormimos bem apertados.” E assim começou a chover ideias que logo se convertiram para uma visualização de uma kombi totalmente diferente. Um móvel para a roupa, outro para a comida, um lugar para os artesanatos, uma mesa (meu desejo mais profundo para nossa casinha), um móvel para os tempero (desejo de Cami), etc.
Vinhamos analizando a necessidade de determinar a forma que íamos financiar a viagem/vida, e por mais que vendessemos artesanatos com pedras, era bem desorganizado.
Dois mais dois são quatro em qualquer lugar do mundo. Ela geóloga e ele, administrador...o resultado foi uma empresa de pedras, onde os clientes seriam geólog@s, colecionadores, pessoas que gostam de pedras ou que desejem dar uma mão e ser parte do sonho ajudando com a compra de algum trabalho.
Assim foi que, antes de chegar em Bahía, decidimos desviar o caminho 500km até Serra Grande, onde visitamos as minas de fluorita (um mineral com o qual fazemos artesanatos). “Se conseguirmos um motor, uma serra diamantada, levamos pedras daqui, poderíamos fazer todo o trabalho de começo a fim, baixar os custos e consequentemente baixar os preços de venda.” A mãe de Cami lapida no Brasil. Sería lindo que nos ensinasse e assim sendo parte de nosso sonho com sua gotinha de mel. Falamos com eles e fomos ao Brasil dois meses, deizando a kombi aqui em Bahia para terminar na volta. Porém antes disso, devíamos ir a Bahía.
A chegada foi emocinante. Tudo calculado, surpresa para nossos sobrinhos, uma e outra lágrima, muitos abrazos, fotos e tudo o que acontece quando alguém vai visitar a família.
O primeiro que fizemos foi tirar tudo de dentro da kombi. Uma vez que terminamos isso, estávamos prontos para o passo seguinte. Desenhos, medidas, análise de orçamento. Embarcamos num projeto bastante ambicioso que em alguns momentos não sabíamos o que fazer, mas com ajuda e paciência fomos superando. 4 meses depois olhamos emocionados nossa casinha laranja toda reformada. Fizemos tudo nós mesmos. Com alguns erros e algumas coisas tortas, porém nós que fizemos!!!
Bem felizes formos ao Brasil, porém ao enfrentar a realidade o golpe foi forte. Lapidar é muito mais difícil do que parece e não é algo que se pode aprender em apenas um mês de trabalho intenso. Há muitos fatores que interferiram no nosso trabalho e o que era uma ideia brilhante, terminou sendo um problema. Estamos muito agradecidos aos pais e irmã de Cami por nos ajudarem lá, e também pelos momentos passados com nossos amigos do Brasil e as pessoas que conhecemos lá. Com agumas perdas economicas, mas com muitos aprendizados, viajamos novamente a Bahía Blanca para terminar a kombi sabendo que viajando não podemos lapidar.
Era 6 de fevereiro quando o trem chegou na estação e estava lá minha família para nos receber com muitos beijos e abraços. Voltamos a por muita energia, esforço, amor e alguma e outra birra na kombi, que dia após dia estava ficando mais linda. Tiveram jantares e tarde compartilhadas com amigos que gosto muito.
O plano era partir dia 19, que atrasou um pouco porque a enorme lista de coisas pendentes continua comprida, ainda que a cada dia com mais itens riscados. Acho que amanhã, sexta-feira, poderemos nos despedir com um “até quando seja. Amamos vocês”. Estamos muito agradecidos a minha família por haver nos ajudado e apoiado tanto. Sobre tudo a meu cunhado Ivo, que se não fosse por ele, não tería sido possíver fazer quase nada da kombi.
Lógico que também queremos agradecer aos amigos de carne e virtuais pelas boas energias que nos enviaram durante todo o processo, pelas conversas, por nos acompanhar nesse sonho que em 24 horas terá movimento. Continuará somando quilometros, porém dessa vez com mais espaço dentro, mais bem feita, mais confortável, com a ilusão e vontade de viajar por um Mundo Utópico, que como Galeano disse, serve para avançar.
1 comentario:
hola chicos, muy bella quedo la kombi. yo estoy viajando un poco por la carretera austral chilena, ahora mismo les escribo desde Puyuhuapi, yendo rumbo a Ushuaia. Abrazo y buenas rutas. Sebastián Latinoamérica
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